domingo, 8 de agosto de 2010

Meu nome

Certa vez andando na rua um rapaz gritou meu nome. Nunca o vi na vida mas lá estava aquele ser cantando meu nome naqueles lábios vermelho-sangue..Eu virei o rosto pra ver o individuo e quando deparei com aquilo, veio o arrependimento por não ter virado o rosto delicadamente, jogado os cabelos, dado um singelo e lindo sorriso e dito: “Pois não?” Mas não.Eu apenas virei com aquela cara de “Quem incomoda neste momento?”. Ele ficou sem graça, coitado. Achava que estava perturbando. Eu quis saber como ele soube meu nome. “Andei pesquisando” Humm...tá interessado no produto. Fiz aquela cara de quem diz: “Gostou? Foi mamãe e papai quem fez”. Ele ficou olhando pra minha bochecha o tempo todo. O que será que ele viu na minha bochecha? As vezes me fazia de mimosa e virava o rosto de lado pra ver se ele olhava pros meus olhos, mas não adiantou. Durante a conversa ele quis saber de tudo meu: O que eu fazia, onde, quem era o meu patrão, me fez até explicar o local de trabalho. Ele carregava consigo uma maletinha preta. Era um charme só. Tinha jeito de ser advogado. Mas como aquela coisinha branquinha, sorridente, simpático e bonito podia se interessar por uma pobre coitada como eu? Nunca o tinha visto na vida e lá estava eu falando até o meu RG pro rapaz. Ah, mas se ele pedisse até um dos meus rins eu doava.
Entre uma pergunta e outra eu fazia algumas pra ele, ele sempre desconversava. Tentava me seduzir. Achei mesmo que a noite tava garantida.
Quando olhei pro relógio e vi que tava super atrasada, passou um filme em minha cabeça. Cara, vou ser despedida, quem vai pagar minhas contas? Minha família tá com o nome mais sujo que pau de galinheiro! Vou ser despedida. O mundo caiu aos meus pés. Meu patrão não perdoa nem 5 minutos de atraso vê lá 40 minutos. Tava vendo a cena do meu patrão juntando minhas coisas e fazendo o sinal pra eu sair. E os cobradores batendo na minha porta e me parando na rua gritando meu nome. Êpa, peraê. Cobradores na rua gritando meu nome? Pensei tudo isso num décimo de segundo, uma coisa levou à outra num imediato. Cara, agora lascou mesmo. Aquele rapaz branco-neve dos lábios vermelho-sangue era um cobrador! Filho mãe! Aquela pasta..aquela pasta! Como não? Claro! Olhei pra ele com um ódio que só um os psicopatas poderiam ter. Ele falava enquanto eu pensava isso tudo, mas eu não ouvia o que ele dizia, estava pensando rapidamente. Pensei ainda mais rápido de como sairia daquela situação. Ele já tava quase falando quem era quando abriu a pasta e sacou a promissória. Antes dele me mostrar, eu olhei novamente pro relógio e soltei um palavrão que o quarteirão todo ouviu. Ele ficou assustado, olhou pro lado e reparou que todos estavam mais assustados ainda. Ele não teve reação e eu vi naquilo a hora ideal pra eu fugir. Falei umas coisas que nem eu entendi e segui feito uma mula disparada. Ele tentou ir atrás mas viu que as pessoas estavam suspeitando de algo errado e antes de ser surrado ele seguiu caminho contrário. Nunca mais o vi. Cheguei no escritório e disse pro meu patrão que a gasolina havia acabado. Ele nem reparou o detalhe de eu não ter moto, mas tava tão deprimido porque viu a mulher e o contador em cima da mesa dele fazendo coisas que até a física e a gravidade condenam dias antes que nem se eu soltasse um arroto ele ligaria. Pensei com meus botões de que loja seria aquela da promissória. Pensei a tarde toda quando lembrei de uma que não tava na lista: Esqueci de pagar a farmácia! Fiquei gripada semanas atrás e percebi o quanto faz falta alguém pra cuidar de mim. Será que aquele cobrador tem namorada?

Nenhum comentário:

Postar um comentário