domingo, 13 de novembro de 2011

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Danúbio era um jovem muito bonito que morava no interior de Pernambuco.
Cresceu no meio da pobreza da sua cidade e sempre se achou diferente dos demais garotos.
Todos os seus amigos eram conformados e se sentiam presos àquela situação e nem cogitavam mudar, tentar algo novo, evoluir.
Danúbio então cada vez mais se sentia isolado e seus pensamentos de uma vida real tomavam uma dimensão cada vez maior.
Não dava bola para as menininhas que sorriam para ele e cada vez mais tornava-se vaidoso.
- Meu filho, Celestina veio te ver. O pai dela quer casar vocês dois.
- Mãe, avisa para eles que não, obrigada.
-Mas meu filho, você tem que se casar, arrumar uma terrinha e ter filhos.
-Eu não preciso seguir essa ordem, mãe. Sou diferente.
-Binho, não comece com essa conversa...
-Vou deitar, minha mãe. Bença.
- E a Celestina?
-Boa noite, mãe.

Anos depois Binho conseguiu com o prefeito da cidade uma passagem só de ida para Rio de Janeiro com a promessa que estudaria e voltaria para passar para todos da cidade tudo o que aprendeu. Não é de longe a intenção dele, mas foi o único jeito de ganhar as passagens. Ele era bonito e cativante. Era impossível negar qualquer coisa para ele. Nem o prefeito conseguiu.

Ele não tinha a menor ideia do que estava fazendo, mas procurava não pensar muito nisso.
Anos se passaram e ele finalmente se estabilizou. Arrumou um emprego e economizada dinheiro, mas não sabia pra que.
Um colega do trabalho o chamou para uma irem numa boate juntos e embora ele não entendia muito bem como funcionava, ele foi.

- Oi lindão.
-Oi moça.
-Moça? hahahahaha Gentileza sua.
Nunca te vi por aqui. É novo?
-Sim.
-Qual seu nome?
-Dan
-Daniel?
-Denúbio
- hahhahahahaahahahahahahah
-Está rindo do que?
-Nunca ouvi um nome tão feio na vida. Você é tão lindo! Não combina com esse nome não.
-Ideia dos meus pais. E olha que eu ainda tenho um nome bonito se comparar com meus irmãos.
-Você não é daqui não né?
-Pernambuco
-Imaginei. Caiu de paraquedas aqui?
-Quase isso.
-Muda o nome.
-O que?
-Com esse nome você broxa qualquer uma.
-Inclusive você?
-Menos eu. Você ainda tem esse sorriso lindo.
-Sugere algum então?
-Daniel. O mesmo nome que imaginei que você tinha.
-Renegarei minhas origens
-Você fará um favor a você mesmo, isso sim.

Lá se foi o Daniel noite a dentro. Conheceu 3 garotas diferentes e todas toparam se juntar numa só noite, numa só cama.
Pela primeira vez ele sentiu que valeu a pena deixar tudo para trás, inclusive o nome.
Conheceu também as drogas e as bebidas. Viciou em maconha e logo após em cocaína.
O dinheiro que economizou por anos se foi em dois dias.
O amigo perdeu o controle sobre a situação e alertá-lo não adiantava mais pois ele estava bestificado com tudo aquilo.
Um mês depois Daniel não conseguia mais se manter e foi atrás de ajuda do prefeito da cidade. Percebeu então que as coisas não seriam mais fáceis como antes e acostumou-se então com os nãos da vida. Sua beleza passou a ser comum no meio de tantos outros e nem sorria mais.
Sem dinheiro para voltar para casa, Daniel pensa em alternativas. Não tinha dinheiro para mulheres, drogas e bebidas e já devia bastante dinheiro para os traficantes.
Foi quando vagando pela cidade conheceu Gisele.
Gisele também estava desmotivada e sem vontade de continuar vivendo. A única diferença entre eles é que ela era rica, muito rica. E o motivo dela estar daquele jeito era por perceber que dinheiro não lhe fazia feliz e que seus pais não davam atenção a ela por acharem que o dinheiro fazia tudo.
Ela encantou-se por ele e mais ainda pela história dele. Resolveu então ajudá-lo. Ela foi em casa, pegou tudo o que tinha e comprou as passagens para Pernambuco.
- Mas eu não quero ir, quero ficar aqui.
-Você não pode ficar aqui, isso aqui está acabando com você.
-Mas você pode me ajudar a sair dessa.
-Não posso não.
-Você tem dinheiro! Pode sim!
-Nenhuma palavra que eu disser vai lhe convencer que o seu lugar não é aqui. Volte para a sua cidade. Depois você me agradecerá.
-Vem comigo então.
-Meu lugar também não é lá.
-É onde então?
-Não sei. Vou continuar aqui e quem sabe não tenho a mesma sorte que você e encontro alguém para me ajudar a descobrir.
-Eu não vou.
-Aqui está a passagem. Você decide. Tchau.

Denúbio chegou na rodoviária 15 minutos atrasados. Correu muito para alcançar o ônibus que havia saído. Pensou muito antes de ir. O que seus pais iam dizer? O que fazer lá depois de tanto tempo? Como vai ser tudo agora? Se ao menos ele tivesse dinheiro...

Ela segue sua vida atrás de pessoas para ajudar e quem sabe a vida então fazer sentido. Se ao menos ela não tivesse tanto dinheiro...