quinta-feira, 8 de maio de 2014

"Because nothing' last forever And we both know hearts can change" - GnR

Certamente já te falaram que um remédio deu certo para aquela dor de garganta. Você então foi lá e tomou e não melhorou a sua dor de garganta.
É que nem sempre o que funciona para uma pessoa, vai funcionar para você. Isso serve para aqueles conselhos que te dão e nunca servem para nada.
Certamente também você quis comprar aquele pássaro preso numa gaiola, só para que ele ficasse livre.
É que você já deve ter se sentido preso e por isso entende o que aquele animal sente.
Certamente já quis dizer que sentiu saudade, mas bem grande. Mas nem falou porque ia soar ridículo.
É que você já achou ridículo alguém falar isso para você.
A depreciação da vida pela banalização da morte te faz achar estranho atos simples, e normal atos terríveis. É que estamos acostumando com a insensibilidade da vida.
Certamente você sabe reconhecer o valor que você tem porque você já passou por tanta coisa na vida e por tantas transformações, que sabe que merece sempre e cada vez mais. Mas certamente só veem isso depois de um tempo e é tarde demais.
É que geralmente as pessoas precisam sentir a dor da perda.
Quando sopram amor, você espera que um pó caia no seu colo.
Quando espirram atenção, você quer se contaminar.
Quando choram de saudade, uma gota cai em você.
Quando falam de sentimentos, estão gritando seu nome.
Quando o silêncio chama a solidão, é o seu lado forte que ataca.

A gente sempre acha perda de tempo não sentir mais nenhum cheiro no ambiente, além do próprio.
Perda de tempo sentir a falta de alguém que aparece do nada, quando estamos pensando nele.
E acha que perde tempo ao encostar perto de alguém com o mesmo perfume daquela pessoa.
E o que dizer daqueles jantares que estão esperando por nós, naquela mesa do restaurante e com o garçom tão feliz que quer passar isso adiante.
Aqueles presentes que combinaria com aquela pessoa vão continuar na prateleira da loja cheio de poeira, porque você nunca vai comprar.
O que dizer dos papeis e canetas jogadas longe um do outro, esperando só a falta de motivos para se encontrarem e provocarem sorrisos com o que vai ser lido.
Aquela música linda que ia ser escrita na mais linda sintonia está em silêncio.
Até o dia que você conhece aquela pessoa que falaram que você ia conhecer. E por isso esperou.
Ele vai valorizar até o fato de você deixar sempre o maior pedaço pra ele.
Vai valorizar você deixar de fazer algo que precisa para fazer algo que ele gosta.
Vai cantarolar a música que você gosta, só pra te lembrar que músicas que você gosta precisa ser sempre lembradas, porque no meio de tantas músicas, a que você gosta precisa ser valorizada. Da mesma forma que você o escolheu, no meio de tantos outros.
Vai trazer sua flor favorita mesmo você insistindo que não precisa, numa terça-feira chata.
Vai te fazer sorrir sozinha na rua, sempre que lembrar do que ele fez da última vez que tentou te impressionar e deixou tudo cair no chão.
E vai achar que perde tempo em não ter alguém que guarda todas as dores para ouvir as suas.
Ele vai entender todas as vezes que você escreve do nada, um bilhete escrito algo como: "Seu último sorriso foi comigo. Isso pode ser durante toda a vida, se você quiser", e colocar na carteira dele.
E é uma perda de tempo sentir a falta da companhia dele por onde você for. E fazer as pessoas subirem o olhar, procurando por você, toda vez que o ver.
Ele vai entender que você quer aquela outra música para entrar no casamento. E não a tradicional.
Vai entender que você já escolheu o nome do filho de vocês anos antes de vocês se conhecerem.
E entender que a distância depende apenas de um ponto de vista. E que essa vista depende de um ponto.
E vai entender que você não gosta disso ou daquilo, mas pode aceitar que ele goste.
E que você gosta do que ele não gosta e sendo assim, vocês se respeitam.
Ele vai te associar a algumas músicas bonitas e te contar isso.
E te convencer que o tempo só passou para que esse tempo chegasse.
Vai te fazer ver que quando o olhar for mais forte que o tocar, é amor.




sexta-feira, 2 de maio de 2014

A falta


(...) É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

(Carlos Drummond de Andrade)


Esse meu costume de exigir aquilo que nem ofereço.
Aquele costume de pensar e não dizer. Apenas sorrir.
Achando que vão entender pelos gestos. Achando.
Aquela carta que eu não mandei, faria diferença?
Certa vez fui falar algo carinhoso, parecendo não acreditar nos ouvidos, pediu pra eu repetir. Não tive coragem. Arrependo até hoje.
São detalhes, pequenos detalhes que fazem a diferença.  A diferença.
Um “Oi” pela madrugada, deixaria subentendido que aquela saudade não a deixa dormir. Mas aquela luz clara nos olhos cega por minutos a fora.
Naquela tarde vazia, uma ligação valeria o dia. A semana. Era só lembrar daquela  bagunça que valeria o mês.
Talvez já esteja enxertado. Acomodado.
É um daqueles enxertos que preenche tanto, que vazio nenhum ousa tomar conta em encontros de sorrisos.
Daqueles enxertos que ao passar ali onde estivemos, traz uma lembrança boa e uma sensação de paz, pois sente que tem a chance daquilo ocorrer novamente.
Esses enxertos são resistentes, mas quando caem deixam um buraco, daqueles sensíveis, que quando venta, dói.
Peço desculpas àqueles que eu não dei essa oportunidade e que por isso sentiram essa paz em vão.
Que eu baguncei, estraguei tudo.
Que sentiu borboletas no estômago em vão. É porque elas não foram feitas para ficarem presas e sim para serem livres, irem longe.
Vai ver que se soubessem o que ia acontecer, teriam ido com elas...
Mas vai dizer que eu não avisei que era assim? Um misto de inconstância. Ora deixo falar só, ora abraço bem apertado.
Não avisei? Desculpe-me. Esqueci também que adoro fazer surpresas.
Por vezes penso que se eu voltasse no tempo, não perderia tanto tempo com planos bobos do futuro.
Aproveitaria mais os beijos quentes com sarro do presente.
Disseram-me que eu sou a mais desastrada e vaidosa que já conheceram.
Daquelas que têm perfume no cabelo e não aceita comida dada na boca porque sempre cai.
Daquelas que não fala dos sentimentos, mas adora ouvir.
E daquelas malucas que fica descontrolada com ciúmes, mas não demonstra. Fica só roxa. Mas nega.
Demonstra sentimentos com olhar.
Adora conversar enquanto beija.
Das que necessita de comunicação, conversas diária. Desencanta logo, caso o oposto exista.
Que deixa aquelas saudades... Daquelas que faz criar coragem para loucuras, como a ir ao encontro, do nada.
Mas como o convite raramente é feito, então vai sem convite mesmo.
Disseram-me que no meu casamento não iriam comparecer, pois “Não suportaria me ver lá em cima com um vestido branco, dizendo SIM á outro homem”
Se um dia me deixar ir, fique longe.
Estarei me reconstruindo. Isso leva alguns meses. Estarei montando um plano para não lembrar de mais nada. Estarei longe de músicas dramáticas e mudarei a estação de rádio quando ele insistir em tocar as músicas que caem como luva.
Vou estar ouvindo rock e dominando meus pensamentos.
Observando a não importância dada, mas sentindo. Sentindo com aquele instinto que vem à tona todos os dias, que me guiam para eu não enlouquecer sempre que abro os olhos pela manhã.
Estarei lembrando o beijo de despedida já pré-avisado. Não faria nada se não avisar um pouco antes. Para quem sabe dá tempo. Nunca dá.
E vai ser lá onde a dor vai morar e vai passear de vez em quando. E antes de passar, vai ensinar. Ensinar que aquele velho clichê que o tempo cura realmente funciona.
Ensinar a ver pela janela aquela criança sorridente com o sorvete derretendo na mão, uma viagem em devaneio por dentro da mente, que por um instante faz esquecer dos problemas sem precisar do porre de litros de cerveja.
Ensinar que se entregar de corpo e alma não faz mal à ninguém e que quem perde não é quem dá amor e sim aquele que não quer receber.
E vai ensinar a não errar novamente, na outra oportunidade, quanto estiver pronto para outra rodada de sentimentos dentro de si.
O que se ouve por aí, é que a gente ensina a amar, a querer.
E que é uma puta sacanagem não ensinar a perder.