sábado, 13 de setembro de 2014

Mudanças

Escrevi sobretudo ao som de Soul Asylum e NDN

Não precisava ser daquele jeito.
Aquele jeito que você insistia que queria que ficasse não poderia continuar.
Com o decorrer do tempo, a relação ia amadurecendo e precisávamos evoluir também.


- Desde quando você gosta de de filme que nunca assistiu?
- Como assim? De alguma foma eu preciso assistir primeiro para depois gostar e assistir mais vezes.
- Sei, mas você prefere assistir filmes que já assistiu ao invés de assistir um inédito.
- É que eu mudei e sempre estou mudando.

Refletindo sobre essa nova fase dela, ele intrigou e indagou a possibilidade dela estar cansada dele também e querer mudar.

- Por que você mudou?
- Como assim?
- Você anda experimentando muitas coisas novas. Esses dias deixei a toalha em cima da sua cama e você não reclamou.
- Se você sabia que eu não gosto de toalha molhada em cima da cama, porque então assim o fez?
- Para realmente provar que você mudou e está mudando.
- Eu apenas não quis discussão boba.
- Mas antes você discutia até do fato de eu falar com você enquanto está no telefone e nem isso mais.
- Você já devia ter aprendido que eu não gosto.
- Você está me assustando. Daqui a pouco vai querer mudar de namorado também.
- Ninguém me obriga a estar com você. Estou porque gosto de você e você me faz bem. Você não é algo que eu mudaria em minha vida.
- E se eu não conseguir me adaptar com as suas mudanças?
- Você já se adaptou a tantas e nem reparou. Você não reparou que eu parei com várias coisas que eu fazia há anos atrás. E sinceramente, você mudou bastante também.

Devíamos ter parado ali. Não ia haver mágoas. Mas você foi fundo. Até os bilhetes que escrevia enquanto bebia café você jogou em mim. Doeu. Não os bilhetes e sim o que você disse.
E se voltássemos depois de um tempo? Como eu conviveria com as palavras que você disse?
Por isso não voltei.


Mas não foi só por isso. Não voltei porque já havíamos combinado: Se um desistir, os dois desistem. E eu havia desistido, mas não pelo que você disse e sim o que você não disse. Aqueles seus silêncios me enlouqueciam ao mesmo tempo que me amadureciam para um novo despertar.Vi que não era você e te deixei ir.
Vai ver você encontra alguém que mexa no seu cabelo tão bem quanto eu,  que não faz questão de abrir mão do canto da parede da cama, e que não se importa caso você queira puxar a casca da ferida e não peça pra você sorrir na hora de tirar foto.
Eu comprei aquela blusa de Porto Seguro que você tanto queria. Esperei o momento certo para te entregar, mas você sempre me falava que eu não lhe dava importância. Eu não queria lhe fazer essa surpresa só para mostra que você estava errado. Era especial demais para se encaixar num desses joguinhos.

Eu amei você por um bom tempo, confesso. Vou amando cada vez menos. Ele vai morrendo de fome aos poucos.
Meus olhos brilharam enquanto via você sair só de toalha do quarto enquanto procurava o chinelo logo mais a frente. Mas ver você precisando de mim para coisas simples me fazia acreditar que eu era capaz de estar lá para te ajudar também em grandes obstáculos.
Você hoje ainda deve precisar de mim, mas admirava sua independência antes de eu entrar na sua vida e sei que você vai reencontrá-la em algum lugar. Devem estar juntos com o seu amor próprio e respeito ao próximo.
Aqueles gestos com a mão me corroíam e enquanto você falava eu só conseguia prestar atenção naquela violência por trás dos movimentos. Acho que no fundo você queria me dizer alguma coisa com aqueles gestos, mas só imaginava você abaixando suas mãos e desistindo de me convencer, desistindo de se manter em minha vida, desistindo de todo o futuro hostil que nos esperava e finalmente passar por aquela porta com a sensação que valeu a pena toda aquela aprendizagem.
Ninguém é feliz sozinho, mas certamente eu não seria feliz com você. Na verdade, não quis arriscar.

- Só me responde umas últimas coisas. Por que logo agora?
- Porque só agora tive coragem. Eu achei que esse dia nunca ia chegar.
- Foi do nada a decisão? Tem mais alguém?
- Não. Apenas demorou pra eu aceitar. Eu não queria te perder, mas vi que do jeito que estava não poderia continuar. E não tem ninguém não. Não faria isso comigo e nem com você.
- Eu espero que isso tudo passe logo.
- Eu também.

Foi com o ar repleto de incertezas que ele deixou aquele quarto.
Sobre a mesa ficou perguntas sem respostas.
A sensação de medo de não estar fazendo a coisa certa derramava-se pelo chão.
Mas mesmo com todas as inconstâncias e obscuridades que estavam em jogo, terminou-se ali algo imprevisível, o fim.

Eu matei o sentimento.
Mas era ele ou eu.




segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Seu poder em minhas mãos.

Eu percebi que você sabe o poder que você tem.
Você sabe o poder desse seu olhar que varre minha alma mesmo com olhar de canto, como quem não quer nada.
Você sabe o poder da tua barba, que te força amadurecer e te faz mais homem, mesmo que sem querer.
Você sabe o estrago que é capaz de fazer se encostar essa sua barba por fazer em qualquer parte do meu corpo, por isso não tira ela do seu rosto.
Também não tira esse sorriso desconsertante que é capaz de hipnotizar e me consertar.
Você olha para um canto da parede enquanto eu falo e me dá a impressão que não presta a mínima atenção no que eu digo, mas quando eu levanto a sobrancelha eu te chamo a atenção você repete tudo o que eu disse com riqueza de detalhes.
É que ao mesmo tempo que parece que está distante, você está presente.
Você sabe bem o poder que tem nas mãos.
Você sabe que nenhuma parede é capaz de deter sua vontade incansável e veroz.
E que beijar meus ombros que pareciam inalcançáveis é a forma mais fácil de me fazer acordar todas as manhãs levando meu primeiro pensamento do dia até você.
Espero que você sinta uma vontade de sorrir sem motivos sempre que eu penso em você.
Sei que você sente aquelas sensações e medos estranhos de tudo o que pode vir a acontecer, por isso você usa tudo o que você é a seu favor.
Não se mantenha distante. Só vá embora se eu pedir mais de três vezes.
Eu não me arrumo para outras mulheres. É pra você.
Aquela carta que escrevi dá uma leve impressão que foi a única que escrevi, mas não. Antes disso eu havia escrito outras tantas, mas rasguei. Foi porque lembrei do jeito que você olha para os lados sem acreditar em tudo que está escrito.
Talvez você deixa eu ser aquela pessoa que você liga sempre que chega em um lugar novo. Ou então aquela que você leva junto.
Você sabe o poder que tem sempre que meus pés frios encostam nas suas costas e você vira com aquele sorriso que foi preparado só para essas horas.
Você usa  palavras perfeitas enquanto eu grito numa tentativa de me acalmar só por saber que tudo vai dá certo porque você está lá. E se não der certo você estará lá do mesmo jeito.
Você sabe bem como unir esses meus dois lados confusos. Dois ou mais.
Desde que eu percebi que você sabe o poder que tem, eu vi que já era tarde demais e virei sua refém.
Refém daquelas noites em que eu por um segundo acho que estou sozinha, então vejo sua mão na minha cintura como se quisesse me segurar para eu não fugir dali.
Mas como fugiria? Você tem muitas das respostas que tanto procurei e mesmo quando não tem, você me ajuda a buscar mesmo que sozinha.
Não sairia daqueles braços nem quando me pedir. Torço para que isso não ocorra nunca.
Não saberia o que fazer quando percebesse que precisava de você lá... Nem que seja para destemer meus medos e fingir que está tudo bem só porque você me trouxe um bombom comprado com o troco da padaria, porque sabia que valorizo isso em você.
Você sabe o poder que seu tom de voz tem e o que ele faz quando está muito próximo do meu ouvido e até o que fazer depois disso.
Sabe também os pontos do meu corpo que me fazem cócegas, mas não todos.
Você tem vários tipos de sorrisos e eu entendo todos. É que aprendi a repará-los depois que você falou dos meus. Você usa todos nos momentos que mais lhe agradam e quando lhe convém.
E você sabe disso porque você sabe o poder que você tem.

Escrevi ouvindo The Corrs