terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Um certo alguém.

Escrevi sobretudo ao som de
Cerise -  The cliks e  Sixpence None The Richer - Radio


Há muito eu tinha um diário onde guardava segredos como amores inocentes da minha infância.
O tempo passou e fomos ensinados a fazer joguinhos para provocar uma pseudo dor em outrem e então despertar algum sentimento até então desconhecido. Quem começa uma relação com joguinhos por certo sairá dele perdedor.
Já tive medo, receio, vontades e ousadia obscuras e entremeadas pela minha timidez.
Já recebi declarações de amor depois que eu fui embora. Embora de todas as formas: Da cidade, do estado e da vida deles. Eram de um arrependimento recolhido mediante a falta de coragem no meio daquele ápice de oportunidade e não ter dito nada.


"Talvez daríamos certo, mas hoje amargo o sabor da incerteza. Eu deveria antes ter me dado uma chance antes de lhe pedir uma. Falhei. Bem feito para mim. Mas só não me mande o seu convite de casamento. Se não for eu o noivo, não irei".

Muitos aprendizados fazem a gente ter obrigação de não sentir vergonha de coisas nossas, coisas que passamos e que queremos passar.
Sempre vai ter alguém que vai entender que a gente é ridículo e que ficamos ainda muito mais quando gostamos de alguém.

Hoje eu não guardo sentimentos só para mim.
Partindo dessa ideia, eu já falei  para alguém algo que poucos mereceram ouvir e eu apenas ouvi que não precisava enaltecê-lo pois era cheio de defeitos.
Sim, eu conhecia esses defeitos mas eu os entendia e já o havia humanizado bem e mesmo assim ele merecia toda a minha admiração. Quando então obedeci e o igualei aos demais, ele tornou-se apenas mais um. E mais um não me preenche.

Enaltecer alguém é o sinal mais claro de admiração e admirar alguém é uma das atitudes mais nobres que podemos ter alguém.
Devemos humanizar a pessoa que gostamos e, se mesmo assim admirá-lo, é porque é ele não é só mais um.

Mas ainda sigo valorizando e dizendo isso.
Não precisamos ter vergonha de possuir sentimentos bonitos.
Se somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos, então alguém que me cativou deve ser então comunicado e responsabilizado.
Não gostaria de ser autora de um bilhete dizendo que gostava de alguém mas não o deixei sabendo por medo de sofrer. Morrer de amor e renascer é digno.
Gostar de alguém é digno. Dizer isso para a pessoa também é.
É possível expressar sentimentos de várias formas. O receptor por vezes entende e por isso alimenta aquele sentimento e em certo momento criará formas as quais podem fazê-lo perder o controle.
Mas não precisamos de controle algum quando o assunto são sentimentos bons. Claro que eu me refiro apenas àqueles descontroles sadios.

__
         
             A gente não costumava falar de "nós".
E apenas se observasse bem é que era possível apontar algum sentimento nascendo no meio daqueles disfarces.
Hoje eu sei o que estava acontecendo no meio daquela turbulência toda e eu pude então me encontrar e ainda melhor, me entender. Eu estava lá o tempo todo.
Diferentemente estranho (20 vezes) procurei por um espaço onde disfarçaria toda minha timidez naquela coragem e falei sobre a gente. Agora sei como os homens se sentem quando ouvem um "sim" de alguém que gosta.
É porque eu gostaria de ter aquele sorriso sempre por perto.
Eu gostaria de saber mais daquelas histórias loucas e inéditas.
Gostaria que aquela simplicidade me contagiasse.
Gostaria de perder a noção do tempo sempre que o tempo cobrasse muito de mim.
Queria alguém que me entendesse e entendesse todos os meus jeitos de viver e ver as coisas.
Queria ver se era possível conhecer tanta coisa diferente de uma vez só, numa carga emocional moldada ao decorrer dos anos em uma vida paralela a minha.
Não pensei que seria tanto, mas aquela forma jovem de ver o lado de umas situações e encará-la com maturidade pouco comum hoje em dia, me encantou e muito.
Num mundo onde valores vão se deteriorando conforme o proveito do seu bem estar, encontrar o dono de um caráter ímpar e bom gosto em todos os aspectos é algo tão notável que,  quando menos esperar, aquelas borbulhosas  mexidas no estômago aparecem e o frio na barriga também.

Temos coisas em comum que nos aproxima mesmo que não haja nenhuma distância.
Eu havia percebido isso e por isso não poderia deixar passar. Não dava pra apenas escrever sobre ele em um diário que nunca iria ler novamente, ou em um rascunho de papel enquanto tentava concentrar nos estudos.
Lá estava ele, sempre me fazendo companhia e abraçando todas as minhas causas.
Não me deixa esperar, não se incomoda caso faço isso.

Aquela ingratidão que assombrava meus pensamentos já não tinha mais dono.
Tudo se foi como num daqueles pesadelos que quando acordamos temos aqueles alívios imensuráveis.
Já não tem dono também todo aquele rancor que me deixou mais fria. Os donos não levaram, apenas abri mão de tudo aquilo. Aquelas confianças mal distribuídas, aqueles sorrisos com maus admiradores e aqueles sentimentos espalhados e nunca recolhidos.
Se foi toda o fechamento de olhos doloridos, surrados e desprovidos de bons admiradores.
Não há rancor, discórdia, ódio e indiferença. Hoje para mim tanto faz tudo aquilo que senti e o que mais me importa hoje é cada vez mais ocupar esses espaços vazios com ótimos sentimentos de todas naturezas admiráveis possíveis.
O meu tempo é bem gasto hoje em dia. Há quem dá valor até naqueles piores defeitos. Há quem compreenda todas aquelas inconstâncias desde o abrir de olhos até o último fechar a noite.
E as noites que nos esperam ansiosas por aqueles jeitos únicos que entendemos bem. Aquelas timidez cada vez mais escassas e substituídas pelo bem estar.
Não tenho tempo para fazer as unhas, não vou ao cabeleireiro com frequência e não tenho uma variedade de perfumes. Ele não liga. Ele repara, mas não liga.
Ele quer apenas eu e aquele mesmo perfume.

Não me arrependo de ter começado isso tudo.
Continuamos juntos a partir de então.
Amo o tempo que passamos juntos. Aquelas gargalhadas, aquelas receitas, aquelas misturas, aquelas tardes ociosas, os desastres e as perfeições.
Tenho orgulho de estar com ele e ser para ele alguém tão importante quanto ele é para mim.

Debaixo de tudo que fazemos juntos há uma sinceridade que não se compra, não se distribui ao acaso, mas é doada sem medo.
Estamos juntos agora naquela parceria pouco encontrada.

Eu agora faço do meu diário as cartas que envio.
Digo pessoalmente e através delas a importância de pessoas como ele na minha vida, ao meu redor.
E sim, hoje engradeço, admiro e humanizo alguém e ele apenas retribui de todas as formas possíveis. E com aquele sorriso lindo.

Obrigada, Kayke.




sábado, 13 de setembro de 2014

Mudanças

Escrevi sobretudo ao som de Soul Asylum e NDN

Não precisava ser daquele jeito.
Aquele jeito que você insistia que queria que ficasse não poderia continuar.
Com o decorrer do tempo, a relação ia amadurecendo e precisávamos evoluir também.


- Desde quando você gosta de de filme que nunca assistiu?
- Como assim? De alguma foma eu preciso assistir primeiro para depois gostar e assistir mais vezes.
- Sei, mas você prefere assistir filmes que já assistiu ao invés de assistir um inédito.
- É que eu mudei e sempre estou mudando.

Refletindo sobre essa nova fase dela, ele intrigou e indagou a possibilidade dela estar cansada dele também e querer mudar.

- Por que você mudou?
- Como assim?
- Você anda experimentando muitas coisas novas. Esses dias deixei a toalha em cima da sua cama e você não reclamou.
- Se você sabia que eu não gosto de toalha molhada em cima da cama, porque então assim o fez?
- Para realmente provar que você mudou e está mudando.
- Eu apenas não quis discussão boba.
- Mas antes você discutia até do fato de eu falar com você enquanto está no telefone e nem isso mais.
- Você já devia ter aprendido que eu não gosto.
- Você está me assustando. Daqui a pouco vai querer mudar de namorado também.
- Ninguém me obriga a estar com você. Estou porque gosto de você e você me faz bem. Você não é algo que eu mudaria em minha vida.
- E se eu não conseguir me adaptar com as suas mudanças?
- Você já se adaptou a tantas e nem reparou. Você não reparou que eu parei com várias coisas que eu fazia há anos atrás. E sinceramente, você mudou bastante também.

Devíamos ter parado ali. Não ia haver mágoas. Mas você foi fundo. Até os bilhetes que escrevia enquanto bebia café você jogou em mim. Doeu. Não os bilhetes e sim o que você disse.
E se voltássemos depois de um tempo? Como eu conviveria com as palavras que você disse?
Por isso não voltei.


Mas não foi só por isso. Não voltei porque já havíamos combinado: Se um desistir, os dois desistem. E eu havia desistido, mas não pelo que você disse e sim o que você não disse. Aqueles seus silêncios me enlouqueciam ao mesmo tempo que me amadureciam para um novo despertar.Vi que não era você e te deixei ir.
Vai ver você encontra alguém que mexa no seu cabelo tão bem quanto eu,  que não faz questão de abrir mão do canto da parede da cama, e que não se importa caso você queira puxar a casca da ferida e não peça pra você sorrir na hora de tirar foto.
Eu comprei aquela blusa de Porto Seguro que você tanto queria. Esperei o momento certo para te entregar, mas você sempre me falava que eu não lhe dava importância. Eu não queria lhe fazer essa surpresa só para mostra que você estava errado. Era especial demais para se encaixar num desses joguinhos.

Eu amei você por um bom tempo, confesso. Vou amando cada vez menos. Ele vai morrendo de fome aos poucos.
Meus olhos brilharam enquanto via você sair só de toalha do quarto enquanto procurava o chinelo logo mais a frente. Mas ver você precisando de mim para coisas simples me fazia acreditar que eu era capaz de estar lá para te ajudar também em grandes obstáculos.
Você hoje ainda deve precisar de mim, mas admirava sua independência antes de eu entrar na sua vida e sei que você vai reencontrá-la em algum lugar. Devem estar juntos com o seu amor próprio e respeito ao próximo.
Aqueles gestos com a mão me corroíam e enquanto você falava eu só conseguia prestar atenção naquela violência por trás dos movimentos. Acho que no fundo você queria me dizer alguma coisa com aqueles gestos, mas só imaginava você abaixando suas mãos e desistindo de me convencer, desistindo de se manter em minha vida, desistindo de todo o futuro hostil que nos esperava e finalmente passar por aquela porta com a sensação que valeu a pena toda aquela aprendizagem.
Ninguém é feliz sozinho, mas certamente eu não seria feliz com você. Na verdade, não quis arriscar.

- Só me responde umas últimas coisas. Por que logo agora?
- Porque só agora tive coragem. Eu achei que esse dia nunca ia chegar.
- Foi do nada a decisão? Tem mais alguém?
- Não. Apenas demorou pra eu aceitar. Eu não queria te perder, mas vi que do jeito que estava não poderia continuar. E não tem ninguém não. Não faria isso comigo e nem com você.
- Eu espero que isso tudo passe logo.
- Eu também.

Foi com o ar repleto de incertezas que ele deixou aquele quarto.
Sobre a mesa ficou perguntas sem respostas.
A sensação de medo de não estar fazendo a coisa certa derramava-se pelo chão.
Mas mesmo com todas as inconstâncias e obscuridades que estavam em jogo, terminou-se ali algo imprevisível, o fim.

Eu matei o sentimento.
Mas era ele ou eu.




segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Seu poder em minhas mãos.

Eu percebi que você sabe o poder que você tem.
Você sabe o poder desse seu olhar que varre minha alma mesmo com olhar de canto, como quem não quer nada.
Você sabe o poder da tua barba, que te força amadurecer e te faz mais homem, mesmo que sem querer.
Você sabe o estrago que é capaz de fazer se encostar essa sua barba por fazer em qualquer parte do meu corpo, por isso não tira ela do seu rosto.
Também não tira esse sorriso desconsertante que é capaz de hipnotizar e me consertar.
Você olha para um canto da parede enquanto eu falo e me dá a impressão que não presta a mínima atenção no que eu digo, mas quando eu levanto a sobrancelha eu te chamo a atenção você repete tudo o que eu disse com riqueza de detalhes.
É que ao mesmo tempo que parece que está distante, você está presente.
Você sabe bem o poder que tem nas mãos.
Você sabe que nenhuma parede é capaz de deter sua vontade incansável e veroz.
E que beijar meus ombros que pareciam inalcançáveis é a forma mais fácil de me fazer acordar todas as manhãs levando meu primeiro pensamento do dia até você.
Espero que você sinta uma vontade de sorrir sem motivos sempre que eu penso em você.
Sei que você sente aquelas sensações e medos estranhos de tudo o que pode vir a acontecer, por isso você usa tudo o que você é a seu favor.
Não se mantenha distante. Só vá embora se eu pedir mais de três vezes.
Eu não me arrumo para outras mulheres. É pra você.
Aquela carta que escrevi dá uma leve impressão que foi a única que escrevi, mas não. Antes disso eu havia escrito outras tantas, mas rasguei. Foi porque lembrei do jeito que você olha para os lados sem acreditar em tudo que está escrito.
Talvez você deixa eu ser aquela pessoa que você liga sempre que chega em um lugar novo. Ou então aquela que você leva junto.
Você sabe o poder que tem sempre que meus pés frios encostam nas suas costas e você vira com aquele sorriso que foi preparado só para essas horas.
Você usa  palavras perfeitas enquanto eu grito numa tentativa de me acalmar só por saber que tudo vai dá certo porque você está lá. E se não der certo você estará lá do mesmo jeito.
Você sabe bem como unir esses meus dois lados confusos. Dois ou mais.
Desde que eu percebi que você sabe o poder que tem, eu vi que já era tarde demais e virei sua refém.
Refém daquelas noites em que eu por um segundo acho que estou sozinha, então vejo sua mão na minha cintura como se quisesse me segurar para eu não fugir dali.
Mas como fugiria? Você tem muitas das respostas que tanto procurei e mesmo quando não tem, você me ajuda a buscar mesmo que sozinha.
Não sairia daqueles braços nem quando me pedir. Torço para que isso não ocorra nunca.
Não saberia o que fazer quando percebesse que precisava de você lá... Nem que seja para destemer meus medos e fingir que está tudo bem só porque você me trouxe um bombom comprado com o troco da padaria, porque sabia que valorizo isso em você.
Você sabe o poder que seu tom de voz tem e o que ele faz quando está muito próximo do meu ouvido e até o que fazer depois disso.
Sabe também os pontos do meu corpo que me fazem cócegas, mas não todos.
Você tem vários tipos de sorrisos e eu entendo todos. É que aprendi a repará-los depois que você falou dos meus. Você usa todos nos momentos que mais lhe agradam e quando lhe convém.
E você sabe disso porque você sabe o poder que você tem.

Escrevi ouvindo The Corrs

sábado, 9 de agosto de 2014

Não estou preparada ainda.

Eu não gosto de cidade grande. Nunca fui em uma, mas não gosto.
Lá deve ter muita gente estranhamente feliz pra todo lado e eu teria que sorrir toda hora para poder me parecer com elas.
Lá deve ter gente triste, de andar cabisbaixo e eu teria que apenas acenar com a cabeça quando eu encontrasse um conhecido. O que dificilmente aconteceria.
Lá tem gente que anda apressadamente, que come com pressa e quase não olha nos olhos. Eu continuaria andando devagar e seria levada pela multidão.
Lá teria muita gente dando socos no ar quando conseguisse o emprego dos sonhos, como quem quisesse dizer "Eu consegui, porraa!!" E eu ainda estaria saindo dos Correios depois de uma inscrição em um concurso público.
Lá teria gente pedindo dinheiro desesperadamente e eu teria que fingir que não vejo.
Lá teria muitos cães sendo chutados na minha frente e eu não poderia defendê-los sem antes ter certeza que a pessoa não está armada.
Não teria alguém perguntando se quero tomar um café na casa dela e oferecer o bolo que acabou de fazer com as últimas xícaras de açúcar.
Não conseguiria ficar com vontade de comer alguma comida que não tem na cidade, porque lá tem de tudo.
Eu teria que ir ao cinema sozinha e encarar os olhares dos acompanhados.
Eu tentaria ligar pra rádio pra pedir a minha música favorita, mas só daria ocupado.
Ia ver barbudos com pressa por todos os lados e nem daria tempo admirá-los.
Não ia conseguir ver uma janela com uma pessoa pensativa esperando a amada passar.
Não ia sentir cheiro de esterco, de cavalo suado e nem de cachorro sujo, porque não saem de petshop.
Só ouviria falar de Ioga e pilates, enquanto planejava a hora ideal pra andar de bike.
Veria muita gente conversando toda hora e ao mesmo tempo.
Teria muitas pessoas tocando músicas lindas nas ruas e eu me apaixonaria a cada esquina.
Teria em algum lugar o homem ideal pra mim e eu não saberia o que fazer quando o conhecesse.
Teria eu e a multidão lá.
Mas ainda prefiro a multidão e eu.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

"Because nothing' last forever And we both know hearts can change" - GnR

Certamente já te falaram que um remédio deu certo para aquela dor de garganta. Você então foi lá e tomou e não melhorou a sua dor de garganta.
É que nem sempre o que funciona para uma pessoa, vai funcionar para você. Isso serve para aqueles conselhos que te dão e nunca servem para nada.
Certamente também você quis comprar aquele pássaro preso numa gaiola, só para que ele ficasse livre.
É que você já deve ter se sentido preso e por isso entende o que aquele animal sente.
Certamente já quis dizer que sentiu saudade, mas bem grande. Mas nem falou porque ia soar ridículo.
É que você já achou ridículo alguém falar isso para você.
A depreciação da vida pela banalização da morte te faz achar estranho atos simples, e normal atos terríveis. É que estamos acostumando com a insensibilidade da vida.
Certamente você sabe reconhecer o valor que você tem porque você já passou por tanta coisa na vida e por tantas transformações, que sabe que merece sempre e cada vez mais. Mas certamente só veem isso depois de um tempo e é tarde demais.
É que geralmente as pessoas precisam sentir a dor da perda.
Quando sopram amor, você espera que um pó caia no seu colo.
Quando espirram atenção, você quer se contaminar.
Quando choram de saudade, uma gota cai em você.
Quando falam de sentimentos, estão gritando seu nome.
Quando o silêncio chama a solidão, é o seu lado forte que ataca.

A gente sempre acha perda de tempo não sentir mais nenhum cheiro no ambiente, além do próprio.
Perda de tempo sentir a falta de alguém que aparece do nada, quando estamos pensando nele.
E acha que perde tempo ao encostar perto de alguém com o mesmo perfume daquela pessoa.
E o que dizer daqueles jantares que estão esperando por nós, naquela mesa do restaurante e com o garçom tão feliz que quer passar isso adiante.
Aqueles presentes que combinaria com aquela pessoa vão continuar na prateleira da loja cheio de poeira, porque você nunca vai comprar.
O que dizer dos papeis e canetas jogadas longe um do outro, esperando só a falta de motivos para se encontrarem e provocarem sorrisos com o que vai ser lido.
Aquela música linda que ia ser escrita na mais linda sintonia está em silêncio.
Até o dia que você conhece aquela pessoa que falaram que você ia conhecer. E por isso esperou.
Ele vai valorizar até o fato de você deixar sempre o maior pedaço pra ele.
Vai valorizar você deixar de fazer algo que precisa para fazer algo que ele gosta.
Vai cantarolar a música que você gosta, só pra te lembrar que músicas que você gosta precisa ser sempre lembradas, porque no meio de tantas músicas, a que você gosta precisa ser valorizada. Da mesma forma que você o escolheu, no meio de tantos outros.
Vai trazer sua flor favorita mesmo você insistindo que não precisa, numa terça-feira chata.
Vai te fazer sorrir sozinha na rua, sempre que lembrar do que ele fez da última vez que tentou te impressionar e deixou tudo cair no chão.
E vai achar que perde tempo em não ter alguém que guarda todas as dores para ouvir as suas.
Ele vai entender todas as vezes que você escreve do nada, um bilhete escrito algo como: "Seu último sorriso foi comigo. Isso pode ser durante toda a vida, se você quiser", e colocar na carteira dele.
E é uma perda de tempo sentir a falta da companhia dele por onde você for. E fazer as pessoas subirem o olhar, procurando por você, toda vez que o ver.
Ele vai entender que você quer aquela outra música para entrar no casamento. E não a tradicional.
Vai entender que você já escolheu o nome do filho de vocês anos antes de vocês se conhecerem.
E entender que a distância depende apenas de um ponto de vista. E que essa vista depende de um ponto.
E vai entender que você não gosta disso ou daquilo, mas pode aceitar que ele goste.
E que você gosta do que ele não gosta e sendo assim, vocês se respeitam.
Ele vai te associar a algumas músicas bonitas e te contar isso.
E te convencer que o tempo só passou para que esse tempo chegasse.
Vai te fazer ver que quando o olhar for mais forte que o tocar, é amor.




sexta-feira, 2 de maio de 2014

A falta


(...) É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

(Carlos Drummond de Andrade)


Esse meu costume de exigir aquilo que nem ofereço.
Aquele costume de pensar e não dizer. Apenas sorrir.
Achando que vão entender pelos gestos. Achando.
Aquela carta que eu não mandei, faria diferença?
Certa vez fui falar algo carinhoso, parecendo não acreditar nos ouvidos, pediu pra eu repetir. Não tive coragem. Arrependo até hoje.
São detalhes, pequenos detalhes que fazem a diferença.  A diferença.
Um “Oi” pela madrugada, deixaria subentendido que aquela saudade não a deixa dormir. Mas aquela luz clara nos olhos cega por minutos a fora.
Naquela tarde vazia, uma ligação valeria o dia. A semana. Era só lembrar daquela  bagunça que valeria o mês.
Talvez já esteja enxertado. Acomodado.
É um daqueles enxertos que preenche tanto, que vazio nenhum ousa tomar conta em encontros de sorrisos.
Daqueles enxertos que ao passar ali onde estivemos, traz uma lembrança boa e uma sensação de paz, pois sente que tem a chance daquilo ocorrer novamente.
Esses enxertos são resistentes, mas quando caem deixam um buraco, daqueles sensíveis, que quando venta, dói.
Peço desculpas àqueles que eu não dei essa oportunidade e que por isso sentiram essa paz em vão.
Que eu baguncei, estraguei tudo.
Que sentiu borboletas no estômago em vão. É porque elas não foram feitas para ficarem presas e sim para serem livres, irem longe.
Vai ver que se soubessem o que ia acontecer, teriam ido com elas...
Mas vai dizer que eu não avisei que era assim? Um misto de inconstância. Ora deixo falar só, ora abraço bem apertado.
Não avisei? Desculpe-me. Esqueci também que adoro fazer surpresas.
Por vezes penso que se eu voltasse no tempo, não perderia tanto tempo com planos bobos do futuro.
Aproveitaria mais os beijos quentes com sarro do presente.
Disseram-me que eu sou a mais desastrada e vaidosa que já conheceram.
Daquelas que têm perfume no cabelo e não aceita comida dada na boca porque sempre cai.
Daquelas que não fala dos sentimentos, mas adora ouvir.
E daquelas malucas que fica descontrolada com ciúmes, mas não demonstra. Fica só roxa. Mas nega.
Demonstra sentimentos com olhar.
Adora conversar enquanto beija.
Das que necessita de comunicação, conversas diária. Desencanta logo, caso o oposto exista.
Que deixa aquelas saudades... Daquelas que faz criar coragem para loucuras, como a ir ao encontro, do nada.
Mas como o convite raramente é feito, então vai sem convite mesmo.
Disseram-me que no meu casamento não iriam comparecer, pois “Não suportaria me ver lá em cima com um vestido branco, dizendo SIM á outro homem”
Se um dia me deixar ir, fique longe.
Estarei me reconstruindo. Isso leva alguns meses. Estarei montando um plano para não lembrar de mais nada. Estarei longe de músicas dramáticas e mudarei a estação de rádio quando ele insistir em tocar as músicas que caem como luva.
Vou estar ouvindo rock e dominando meus pensamentos.
Observando a não importância dada, mas sentindo. Sentindo com aquele instinto que vem à tona todos os dias, que me guiam para eu não enlouquecer sempre que abro os olhos pela manhã.
Estarei lembrando o beijo de despedida já pré-avisado. Não faria nada se não avisar um pouco antes. Para quem sabe dá tempo. Nunca dá.
E vai ser lá onde a dor vai morar e vai passear de vez em quando. E antes de passar, vai ensinar. Ensinar que aquele velho clichê que o tempo cura realmente funciona.
Ensinar a ver pela janela aquela criança sorridente com o sorvete derretendo na mão, uma viagem em devaneio por dentro da mente, que por um instante faz esquecer dos problemas sem precisar do porre de litros de cerveja.
Ensinar que se entregar de corpo e alma não faz mal à ninguém e que quem perde não é quem dá amor e sim aquele que não quer receber.
E vai ensinar a não errar novamente, na outra oportunidade, quanto estiver pronto para outra rodada de sentimentos dentro de si.
O que se ouve por aí, é que a gente ensina a amar, a querer.
E que é uma puta sacanagem não ensinar a perder.




segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Exatamente igual.

Ele estava vendo se o cabelo havia bagunçado muito no ônibus através do reflexo no celular. Não.
Foi quando olhou pro lado e sorriu pra um estranho, que achou estranho e escondeu a bolsa.
Não era a mesma coisa que ir a um parque de diversões sem os pais. A mulher gorila já não era uma opção de ir ver ou não. Ela estava em toda parte.
Alguém o cutuca para devolver algo que ele havia deixado cair sem querer. Nessa hora sentiu um alívio por imaginar que as pessoas dali não são tão ruins assim. Meia hora depois passou um adolescente correndo e levou uma das suas bolsas.
- Perdeu, perdeu.
- Volta aqui cara, que isso!
O ladrão ainda olhou pra trás pra ver se acredita que o rapaz havia pedido mesmo pra ele voltar. Corria rindo.
"Pelo menos só tinha uns cadernos com anotações e pouco dinheiro", pensou.
Ficou confuso. Duas horas confuso.
Voltou ao normal e foi na padaria pedir emprego.
Porque uma padaria? Gostava de pães. Achava que gostava tanto que podia viver fazendo isso.
- Sem experiência, sem chance, meu rapaz.
- Mas senhor, se ninguém me der uma oportunidade, nunca terei experiência.
- Saia daqui. Tenho muito o que fazer.
Foi numa farmácia. Porque uma farmácia? Era hipocondríaco. Achava que entendia de remédios mais do que farmacêuticos.
- Não, cara. Remédio requer conhecimento.
- Mas eu sou hipo...
- Você é o que?
- Nada não, obrigadao.
Achou melhor não expor isso para um farmacêutico. Foi embora.
Tentou lojas de roupas, calçados e de eletrodomésticos. Mas ninguém quis dar oportunidade para ele.
Saiu a noite. Ainda restou um pouco de dinheiro que havia juntado. Com dezoito anos e com pais humildes, não dá pra contar com muito e nem com muitas pessoas na cidade grande.
Sua vizinha havia comentado que seus olhos pareciam cor de mel quando vistos sob um certo ângulo de luz. Com tantos detalhes em uma frase, ele a pediu em namoro.
Ela foi seu amoleto da sorte.
Algumas pessoas quando entram na vida de outras são como amoletos, pois a partir daquele momento, tudo dará certo.
Escreveu uma música para ela. Deixou em cima da mesa. Um amigo em comum colocou os pés sobre a mesa e o papel grudou na perna dele. Quando terminou de ler, comentou que tocava e cantava e perguntou se podia cantá-la nos bares por onde ia.
Um mês depois tinha um cantor famoso na cidade querendo conhecer o autor da música.
A música falava de anel, cotidiano, ligações, saudade e sorrisos. Com tanta coisa sem nexo e de ponta cabeça na sua vida, era o que mais pensava.
Seus pais foram visitar a mais nova celebridade da cidade. Mas não era ele. Ele apenas escreveu a música.
Não ficou muito famoso e nem rico. O outro cantor ficou.
Foi quando se apresentou novamente na padaria para tentar novamente a vaga. Continuava sem experiência, mas já havia saído na TV, em um canal local. O dono da padaria então lhe deu a oportunidade.
Um ano depois tinha sua própria padaria. Começou a vender pizza a noite também. Escrevia músicas pensando na então esposa. O amigo cantava na pizzaria. Ficou rico. Contratava recém - chegados na cidade e sem experiência alguma.
Na segunda-feira ajeitou o cabelo no espelho da suíte antes de mais um dia de trabalho. Lembrou que em um dos cadernos que foram roubados havia escrito que ia tentar um emprego em um jornal da cidade.
Que bom que não lembrou e não foi.
Vai que conseguia...