sábado, 26 de janeiro de 2013

O que eu aprendi com meus animais.


Eu aprendi com meu cachorro Bóris que devo voltar sempre pra casa depois de sair sem olhar para trás.
Ele que voltava sempre machucado depois de algumas brigas na rua, me ensinou a voltar pra casa depois de lutar aqui fora também.
Ele sempre influenciava o meu outro cachorro a sair de casa também, assim que o portão se abria ele saia em disparada e nem sabia os perigos que ia ter que enfrentar, mas saia e, além disso, ainda incentivava o outro a sair também e correr sem olhar para trás. Então, com isso, eu aprendi a ver que existem pessoas nas suas zonas de conforto esperando apenas um empurrãozinho. Já sou responsável por algumas mudanças em algumas vidas.
Aprendi com Bóris a ser forte. Ele que viu seus amiguinhos serem levados de casa sem entender nada e sem saber para onde iam...Talvez até ele esperava um dia eles voltarem para casa, mas nunca voltavam. Ele foi o único que a leishmaniose não vitimou. Aprendi então a deixar as pessoas da minha vida partirem sem saber se um dia as verei novamente ou não. Na cidade de Três Corações eu deixei algumas pessoas lá e ainda espero revê-las, mas sem muita esperança.
Aprendi com Bóris que não devo exigir muito além do que podem me dar. Ele que se contentava com qualquer demonstração de carinho e olhar carinhoso...Um vira lata sobrevivente e forte até o último minuto de vida, sempre estava feliz com o mínimo, mesmo que o que seria mínimo para mim, era o máximo para ele. Com isso eu aprendi que não exijo roupas de marca e nem o que não posso ter e que meus pais fazem de tudo para me manter bem e qualquer coisa para mim já vira o suficiente.
Bóris desenvolveu dermatite por lambedura certamente devido ao estresse por estar sem seus amigos de antes e por sentir que as coisas não andavam bem. Já eu desenvolvi uma gastrite nervosa quase que pelos mesmos motivos.
Aprendi com Bóris que a luta pela vida é importante e mesmo com as pernas não conseguindo manter-se em pé nos últimos dias de vida, ele demonstrava-se forte e disposto a dar o último passeio com aquela que segue a profissão que ele ajudou a incentivar. Ele que passou por duas cirurgias aos doze anos de idade me mostrou que quando ainda não é a hora, Deus dá quantas chances precisar. Então eu aprendi que não era a hora do meu pai, que aos setenta e seis anos de idade, sofreu um infarto que costuma ser fatal e sobreviveu bravamente e lutou pela vida.
Aprendi com ele também que existe hora certa para tudo, até para morte. Ele que passou sua vida toda me mostrando que devo seguir a veterinária, esperou eu entrar na faculdade para então partir. Ele que escutou por tantos anos meus sussurros desejando um dia poder cuidar de animais incríveis como ele, esperou nosso último passeio e minha despedida, para então, depois de lutar dignamente pela vida até o último momento, partir. Eu esperei 23 anos e a hora certa para então estar na medicina veterinária.
Aprendi com Boby que sempre seguia Bóris nas fugas, que devo sempre acompanhar os exemplos das pessoas que julgo serem boas influências para mim e segui-las sem perguntar se aquela é a escolha certa.
Boby sempre mordia a perna de Bóris e ele com toda sua maturidade e paciência, apenas sentava para que Boby não conseguisse mais alcançar suas patas. Eu aprendi com isso a pegar no pé das pessoas calmas e não conseguia irritá-las mesmo insistentemente sempre fazendo a mesma coisa. Esses anjos da minha vida apenas sentam e com toda paciência do mundo me ouvem para então eu parar.
Aprendi com Boby que os pequenos são talvez os mais barulhentos e que fazem maior estrago. Um pinscher que não sabia mais como fazer nós voltarmos o olhar apenas para ele, clamava então por atenção todo tempo. Eu então comecei a perceber que as pessoas pequenas são assim porque de alguma forma precisam chamar atenção para compensar alguma coisa.
Boby foi vítima da leishmaniose e eu, infelizmente, tive que vê-lo partir. Não pude fazer muito naquela época pois não existia tratamento e não conhecia meus direitos como proprietária de um cão com essa doença. Então eu estudo sempre sobre a doença para tentar atingir ao máximo de pessoas possíveis sobre a prevenção ou tratamento da leishmaniose e então aprendi que não somos obrigadas a entregar nosso cão doente e que nossa casa é um inviolável.
Com Íbis, um coelho que tive na infância, comecei a sentir o gostinho de cuidar de um animal e gostei daquela primeira sensação de passar uma pomada numa ferida e vê-la sarar. Aos dez anos de idade lá estava eu correndo atrás da cura de uma ferida que apareceu nas costas de um coelho. Três vezes por dia passava a pomada e ele curou. Foi aí que descobri que quero passar o resto da minha vida sentindo aquela sensação. Eu aprendi com Íbis a superar qualquer expectativa. Um animal como ele viveria apenas uns oito anos em cativeiro, mas ele viveu dez.
E com Bono, meu papagaio, aprendi o significado de um amor verdadeiro e único. Papagaios escolhem delicadamente um parceiro para a vida toda. Por isso tanta cautela e dedicação. Não é qualquer um que serve, pois já que ele vai passar muito tempo com o papagaio que escolher, então que valha a pena. Criterioso e exigente, mas quando acham, são extremamente carinhosos e fiéis. Reforcei, com a chegada de Bono, essa ideia. Vale a pena esperar por alguém que valerá a pena. E ser cautelosa e exigente não é nenhum pecado.
Eu sou a parceira pra toda vida que Bono escolheu, então para mim são reservados as mais delicadas bicadas e os mais deliciosos carinhos.
Aprendi com ele a amar muito e a odiar ainda mais. Bono simplesmente não atura alguns membros da minha família, mesmo eles não tenha o feito mal, mas ele simplesmente ataca para demonstrar que não gosta. Bono então me ensina a não ser falsa e a deixar claro quando não gosto de algo.
Já com quem ama, é extremamente carinhoso, dedicado, fiel e adora provocar dúvidas em relação a todos esses sentimentos despejados numa pessoa só e por isso, de vez em quando provoca dor ao bicar mais forte. Talvez seja uma forma de dizer: "Se aguentar é porque fez mesmo a escolha certa."
Canta quando está feliz, deixando bem claro como se sente e taca quando não quer sair de casa, deixando bem claro que quer curtir aquele momento sozinho e que aquele hora não é a hora certa.
Bono se alegra e abre as asas sempre que eu chego perto. Essa é a forma dele de mostrar que aquela pessoa é bem vinda.
Sempre grita do mesmo jeito, como se me chamasse sempre que eu me afasto. E abre as asas quando chego.
E enjoa da comida, mesmo gostando muito dela.
Bono sempre reconhece as músicas que canto para ele e sempre que a música toca ele quer cantar junto. Isso o faz sentir mais próximo de mim e essa é a forma dele de sentir minha presença  e talvez sinta saudade, mas não pode fazer muita coisa a respeito, apenas esperar eu voltar.
Ele grita, berra, brinca, ataca, faz carinho, quer carinho e sempre no dia que assim quer.Tem dias que está sem graça, não curte nada, não se ouve um som vindo dele e  tem dias que e não quer sair de casa, apenas esperar o dia acabar. Ele gosta sempre das mesmas coisas, do mesmo jeito, das mesmas pessoas e dos mesmos lugares. Igual a mim
 Antes de atacar, ele avisa para a pessoa poder se afastar. E quando quer carinho apenas se aproxima e abaixa a cabeça. Às vezes ele faz isso para a mesma pessoa e no mesmo dia. Igual a mim.

Todos meus se foram e levaram um pedaço de mim. Plantaram uma sementinha em mim que brotou e hoje e me mantém viva.

Bono mora na Bahia e eu em Minas Gerais. A saudade é enorme e nos meus sonhos sempre consigo matar um pouco da saudade. Dizem que papagaios vivem uns 60 anos. Eu espero mesmo...Tenho muito ainda o que aprender com ele. E, além disso, eu sou o amor dele e ele o meu.