segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Exatamente igual.

Ele estava vendo se o cabelo havia bagunçado muito no ônibus através do reflexo no celular. Não.
Foi quando olhou pro lado e sorriu pra um estranho, que achou estranho e escondeu a bolsa.
Não era a mesma coisa que ir a um parque de diversões sem os pais. A mulher gorila já não era uma opção de ir ver ou não. Ela estava em toda parte.
Alguém o cutuca para devolver algo que ele havia deixado cair sem querer. Nessa hora sentiu um alívio por imaginar que as pessoas dali não são tão ruins assim. Meia hora depois passou um adolescente correndo e levou uma das suas bolsas.
- Perdeu, perdeu.
- Volta aqui cara, que isso!
O ladrão ainda olhou pra trás pra ver se acredita que o rapaz havia pedido mesmo pra ele voltar. Corria rindo.
"Pelo menos só tinha uns cadernos com anotações e pouco dinheiro", pensou.
Ficou confuso. Duas horas confuso.
Voltou ao normal e foi na padaria pedir emprego.
Porque uma padaria? Gostava de pães. Achava que gostava tanto que podia viver fazendo isso.
- Sem experiência, sem chance, meu rapaz.
- Mas senhor, se ninguém me der uma oportunidade, nunca terei experiência.
- Saia daqui. Tenho muito o que fazer.
Foi numa farmácia. Porque uma farmácia? Era hipocondríaco. Achava que entendia de remédios mais do que farmacêuticos.
- Não, cara. Remédio requer conhecimento.
- Mas eu sou hipo...
- Você é o que?
- Nada não, obrigadao.
Achou melhor não expor isso para um farmacêutico. Foi embora.
Tentou lojas de roupas, calçados e de eletrodomésticos. Mas ninguém quis dar oportunidade para ele.
Saiu a noite. Ainda restou um pouco de dinheiro que havia juntado. Com dezoito anos e com pais humildes, não dá pra contar com muito e nem com muitas pessoas na cidade grande.
Sua vizinha havia comentado que seus olhos pareciam cor de mel quando vistos sob um certo ângulo de luz. Com tantos detalhes em uma frase, ele a pediu em namoro.
Ela foi seu amoleto da sorte.
Algumas pessoas quando entram na vida de outras são como amoletos, pois a partir daquele momento, tudo dará certo.
Escreveu uma música para ela. Deixou em cima da mesa. Um amigo em comum colocou os pés sobre a mesa e o papel grudou na perna dele. Quando terminou de ler, comentou que tocava e cantava e perguntou se podia cantá-la nos bares por onde ia.
Um mês depois tinha um cantor famoso na cidade querendo conhecer o autor da música.
A música falava de anel, cotidiano, ligações, saudade e sorrisos. Com tanta coisa sem nexo e de ponta cabeça na sua vida, era o que mais pensava.
Seus pais foram visitar a mais nova celebridade da cidade. Mas não era ele. Ele apenas escreveu a música.
Não ficou muito famoso e nem rico. O outro cantor ficou.
Foi quando se apresentou novamente na padaria para tentar novamente a vaga. Continuava sem experiência, mas já havia saído na TV, em um canal local. O dono da padaria então lhe deu a oportunidade.
Um ano depois tinha sua própria padaria. Começou a vender pizza a noite também. Escrevia músicas pensando na então esposa. O amigo cantava na pizzaria. Ficou rico. Contratava recém - chegados na cidade e sem experiência alguma.
Na segunda-feira ajeitou o cabelo no espelho da suíte antes de mais um dia de trabalho. Lembrou que em um dos cadernos que foram roubados havia escrito que ia tentar um emprego em um jornal da cidade.
Que bom que não lembrou e não foi.
Vai que conseguia...