sexta-feira, 2 de maio de 2014

A falta


(...) É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

(Carlos Drummond de Andrade)


Esse meu costume de exigir aquilo que nem ofereço.
Aquele costume de pensar e não dizer. Apenas sorrir.
Achando que vão entender pelos gestos. Achando.
Aquela carta que eu não mandei, faria diferença?
Certa vez fui falar algo carinhoso, parecendo não acreditar nos ouvidos, pediu pra eu repetir. Não tive coragem. Arrependo até hoje.
São detalhes, pequenos detalhes que fazem a diferença.  A diferença.
Um “Oi” pela madrugada, deixaria subentendido que aquela saudade não a deixa dormir. Mas aquela luz clara nos olhos cega por minutos a fora.
Naquela tarde vazia, uma ligação valeria o dia. A semana. Era só lembrar daquela  bagunça que valeria o mês.
Talvez já esteja enxertado. Acomodado.
É um daqueles enxertos que preenche tanto, que vazio nenhum ousa tomar conta em encontros de sorrisos.
Daqueles enxertos que ao passar ali onde estivemos, traz uma lembrança boa e uma sensação de paz, pois sente que tem a chance daquilo ocorrer novamente.
Esses enxertos são resistentes, mas quando caem deixam um buraco, daqueles sensíveis, que quando venta, dói.
Peço desculpas àqueles que eu não dei essa oportunidade e que por isso sentiram essa paz em vão.
Que eu baguncei, estraguei tudo.
Que sentiu borboletas no estômago em vão. É porque elas não foram feitas para ficarem presas e sim para serem livres, irem longe.
Vai ver que se soubessem o que ia acontecer, teriam ido com elas...
Mas vai dizer que eu não avisei que era assim? Um misto de inconstância. Ora deixo falar só, ora abraço bem apertado.
Não avisei? Desculpe-me. Esqueci também que adoro fazer surpresas.
Por vezes penso que se eu voltasse no tempo, não perderia tanto tempo com planos bobos do futuro.
Aproveitaria mais os beijos quentes com sarro do presente.
Disseram-me que eu sou a mais desastrada e vaidosa que já conheceram.
Daquelas que têm perfume no cabelo e não aceita comida dada na boca porque sempre cai.
Daquelas que não fala dos sentimentos, mas adora ouvir.
E daquelas malucas que fica descontrolada com ciúmes, mas não demonstra. Fica só roxa. Mas nega.
Demonstra sentimentos com olhar.
Adora conversar enquanto beija.
Das que necessita de comunicação, conversas diária. Desencanta logo, caso o oposto exista.
Que deixa aquelas saudades... Daquelas que faz criar coragem para loucuras, como a ir ao encontro, do nada.
Mas como o convite raramente é feito, então vai sem convite mesmo.
Disseram-me que no meu casamento não iriam comparecer, pois “Não suportaria me ver lá em cima com um vestido branco, dizendo SIM á outro homem”
Se um dia me deixar ir, fique longe.
Estarei me reconstruindo. Isso leva alguns meses. Estarei montando um plano para não lembrar de mais nada. Estarei longe de músicas dramáticas e mudarei a estação de rádio quando ele insistir em tocar as músicas que caem como luva.
Vou estar ouvindo rock e dominando meus pensamentos.
Observando a não importância dada, mas sentindo. Sentindo com aquele instinto que vem à tona todos os dias, que me guiam para eu não enlouquecer sempre que abro os olhos pela manhã.
Estarei lembrando o beijo de despedida já pré-avisado. Não faria nada se não avisar um pouco antes. Para quem sabe dá tempo. Nunca dá.
E vai ser lá onde a dor vai morar e vai passear de vez em quando. E antes de passar, vai ensinar. Ensinar que aquele velho clichê que o tempo cura realmente funciona.
Ensinar a ver pela janela aquela criança sorridente com o sorvete derretendo na mão, uma viagem em devaneio por dentro da mente, que por um instante faz esquecer dos problemas sem precisar do porre de litros de cerveja.
Ensinar que se entregar de corpo e alma não faz mal à ninguém e que quem perde não é quem dá amor e sim aquele que não quer receber.
E vai ensinar a não errar novamente, na outra oportunidade, quanto estiver pronto para outra rodada de sentimentos dentro de si.
O que se ouve por aí, é que a gente ensina a amar, a querer.
E que é uma puta sacanagem não ensinar a perder.




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