quinta-feira, 12 de setembro de 2013

É sobre o seu abraço

Ele tinha os cabelos engraçados que a divertia sempre. Ainda mais quando ele dizia que não penteou porque havia acordado atrasado.
- Atrasado pra que? Você está de férias!
- Atrasado pra nada. Era apenas uma desculpa. Pena que não colou.
Eles ficavam minutos sem dizer uma só palavra, e sem medo do silêncio constrangedor.
- Não gosto de diminutivos e nem de aumentativos. Normal faz bem. Ou é ou não é.
-Também não. A propósito, já disse que seu cabelo está engraçado?
- Já sim, mas eu gosto de ouvir
- E eu de dizer. 
- Ah, se eu rir daquele casal, me ajude a disfarçar.
- Claro! Eu finjo estar fazendo uma careta.
- Mas não precisa ir treinando.
- Como você é chato! Parece até eu falando!
Riram. Como em muitas vezes.

- Sorvete de abacaxi e depois suco de abacaxi. Pra que mais do que isso?
- Também acho.
~Nota mental: Parar de concordar, mesmo concordando. Vai parecer mentira ou falsidade. Embora não seja. ~
- Por que ficou séria, de repente?
- Nada não.
- Sabe quando você acha que aquele pote no congelador é sorvete e quando abre, encontra feijão?
- Sei sim! Já aconteceu comigo várias vezes.
- É assim que começa uma relação que depois não dá certo. 
- Você tem uns pensamentos malucos. Cabelos e pensamentos malucos. Ainda bem que já te conheço e não me iludo em vão. Você pode ser sorvete ou feijão. Eu gosto dos dois.

Os dois já não estavam mais naquela fase de expectativas faz tempo! Nem sequer a tiveram. Sabiam que era bobagem e como não tinham nada a perder, deixaram acontecer e aconteceu. Aconteceu muito bem.

Enquanto falava, o sorvete melou toda sua mão. Quando ele foi lamber, deixou cair sorvete na mesa. Foi limpar e deixou cair na calça e na blusa. Ela não conseguia parar de rir e sabia o que as pessoas sentiam quando é ela que passa por situações assim. Ele era desastrado assim como ela. Não precisavam se ajustar ou mudar nada. Só levavam guardanapos extras por onde iam. Ela sempre deixava derramar algo enquanto ria dele e vice-versa.
Às vezes ela se assustava por namorar alguém tão parecido com ela. Na maioria das vezes não. 
No manual de instruções do abraço tinha o passo a passo de como ele a abraçava.

Uma vez brigaram. Foi quando estavam comprando um porta retrato. Ele queria azul e ela verde. Ficaram um três horas sem se falarem. Riram durante dias da foto que ela colocou lá. Estava metade pintado de azul e metade pintado de verde. Não dava pra ver a foto. Mas era a mesma que estava no notebook deles.
Tinha um pedaço de folha pregado naquele porta retrato, escrito: "Te faço bem. Não esquece".

Ficaram bêbados uma vez. Foi a única vez que disseram "Eu te amo" um para o outro. 
Ela vomitou em seguida. Ele desmaiou.


Ela sempre dava um jeito de ir embora quando gostava de alguém. Mas fez questão de ficar dessa vez.
Não fazia questão de ter certeza se ia dar certo ou não. Estava mergulhada em tudo aquilo e foi sem certeza.
Era feliz. Com certeza.

Ele sorria de um jeito diferente. Sabia que aquele sorriso controlava tudo. Sabia o que fazia na mente dela com aquele sorriso.
Raramente diziam "Eu te amo".  Diziam coisas mais legais, tipo: "Pensando em você. Aqui. Já! Te dou meia hora."

Tiravam fotos juntos mas não postavam na internet. Pra que informar que estão juntos? Amigos e família já sabiam. Mais do que isso tornaria desnecessário.

- Minha filha, telefone pra você.
- Quem é? 
- Ainda pergunta?
- Diz que chego lá em meia hora. 

É o prazo que ele sempre dá. Ela atrasa. Ele não se importa.

Uma vez postaram uma foto dos seus rostos juntos, só mostrando os olhos dos dois. Ninguém entendeu o porquê de justamente aquela foto.


"Quem sabe se no fundo dos olhos dá pra ver nossas almas. Gêmeas."

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